Os Céus e todos os Deuses pareceram ouvir os lamentos de dor do infeliz casal.
Arrojados violentamente em outras dimensões, Níobe se viu lançada nos braços de Anfião.
E de sua garganta intumescida o grito de dor transmutou-se em poesia:
Eu
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou o irmão do Sonho, e desta sorte,
Sou a crucificada... A dolorida...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou! (Florbela Espanca).
Estremecidos, Níobe e Anfião, num arroubo de desejo e paixão, fizeram amor.
Ruborizados, Céus e Deuses esconderam suas faces.
E, em pleno dia, a noite se fez!