3/25/2007

O Sagrado e o Profano!


Após a terrível ruptura com a fusão cósmica que usufruíra durante todos aqueles meses, eu ainda não dispunha de uma organização biológica e neurológica pronta para interagir naquele novo mundo. O mundo externo me aparecia indiscriminado. Confusa, não conseguia distinguir com clareza o que era eu e do que não era!

Minha vivência continuava pele a pele e era muito prazerosa.

O aconchego do colinho dos humanos, as delícias gustativas das mamadeiras, as “lembranças” amnióticas trazidas pelos banhos de imersão na banheira...

Eu até poderia estar sendo plenamente feliz se não “soubesse” que me faltava algo: algo me fora tirado com o nascimento naquele mundo!

Confusa, embora entorpecida, eu me recusava a me submeter à situação.

Que mundo antiquado era aquele?

Aqui se nasce tábua rasa? Ignora-se tudo que já vivemos antes? Para onde irão todas aquelas experiências que vivi antes de aqui nascer?

Será preciso aprender tudo novamente? Minha memória terá sido completamente apagada? Nenhum resíduo, nenhum fragmento, nenhuma fatia terá ficado?

Que dor! Viver, como uma Humana, limitada por minhas percepções corpóreas... Apenas consciente das percepções e discriminações biológicas!

Perder minha condição de cidadã cósmica! Ser apenas um animal pensante?

E à medida que o entorpecimento ia aumentando e eu cada vez mais me sentia inserida naquele novo contexto, uma tristeza enorme foi se apoderando de minha alma. Uma saudade imensa que me acompanharia para sempre, mas que com o tempo se tornaria inexplicável para mim.

_Por todos os deuses! Como poderei viver sem a minha natural comunhão com o Cosmos?